Congresso SOCERGS 2024 destaca avanços e desafios na Cardiologia contemporânea

11/10/2024

Início do evento destacou tendências, inovações e o futuro do tratamento cardiovascular, abordando temas como a terapia hormonal, cigarro eletrônico e manejo do infarto

O primeiro dia do Congresso SOCERGS 2024, em Gramado, nesta quinta-feira (10/10) trouxe discussões que refletem as tendências atuais e os desafios da cardiologia. Entre os temas mais relevantes abordados, destacaram-se: a relação entre o uso da testosterona e o risco cardiovascular; efeitos colaterais e benefícios da terapia hormonal; a crescente preocupação com o uso de cigarros eletrônicos; e as novas abordagens no manejo do infarto agudo do miocárdio. Os temas foram apresentados em formato de “Respostas Curtas para Questões Relevantes”, permitindo que os participantes se atualizassem sobre as melhores práticas e novas evidências.

Cardiologia Geral

Entre os tópicos discutidos estavam os riscos cardiovasculares associados à testosterona, a relação entre café e saúde cardíaca, e a evidência do uso de magnésio na prevenção de doenças cardiovasculares. Os palestrantes também abordaram a grave aterosclerose carotídea assintomática, os malefícios do cigarro eletrônico, a importância da medicina do sono e a abordagem adequada à dor torácica em emergências.

O cardiologista Gilberto Lahorgue Nunes (RS) enfatizou a gravidade do acidente vascular cerebral (AVC) no Brasil, destacando seu impacto econômico e social. O custo anual de um AVC por pessoa é de aproximadamente R$ 134 mil, resultando em um impacto de R$ 30 bilhões ao ano.

“Em 2023, o Brasil registrou 50 mil óbitos relacionados ao AVC no primeiro semestre, enquanto em 2022 foram 114 mil mortes. Diante desses números alarmantes, a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo surge como uma estratégia importante, que deve ser indicada cuidadosamente para prevenir esses eventos fatais em pacientes de alto risco”, disse.

O médico Nicolas Bioni Stefano falou sobre as causas comuns da ferritina elevada. Segundo ele, isso pode acontecer devido a várias condições, como alguns tipos de câncer, a síndrome metabólica, que está relacionada à obesidade e diabetes, e problemas renais crônicos, entre outros fatores.

O médico Cícero de Campos Baldin ressaltou a importância de um atendimento bem estruturado para pacientes com dores no peito, enfatizando que é essencial seguir um fluxo organizado para garantir o diagnóstico correto.

“Uma boa conversa inicial com o paciente (anamnese) é importante, mas não deve ser a única ferramenta para descartar problemas graves. É fundamental que os profissionais de saúde conheçam e ajustem as tabelas de referência para a troponina, uma proteína que ajuda a identificar problemas cardíacos, conforme o protocolo do hospital”, afirmou.

Já o médico Jairo Monson de Souza Filho, falou da relação do café com as alterações cardíacas.

“O café é uma bebida extremamente complexa, contendo mais de mil substâncias identificadas. Algumas delas podem ter impacto direto sobre o sistema cardiovascular. Por isso é importante estar atento a dosagem. Há as particularidades de cada indivíduo, como a forma de preparo, a quantidade consumida e o padrão de consumo diário. Todos esses fatores juntos determinam os efeitos do café no corpo”, afirmou.

Um dos tópicos com maior destaque foi o risco do uso de esteroides anabolizantes. Segundo o médico Daniel Souto Silveira, é importante entender a diferença entre o uso de esteroides anabolizantes androgênicos e a terapia de reposição de testosterona (TRT).

“É crucial estar atento às contraindicações para o uso da TRT. Quando usado para fins estéticos traz sérios riscos à saúde”, disse.

Manejo do Infarto Agudo do Miocárdio

Um dos destaques do congresso foi a discussão sobre o manejo contemporâneo do infarto agudo do miocárdio (IAM). Roberto Estrazulas Mayer destacou a relevância dos inibidores de SGLT2 no tratamento de pacientes após um infarto agudo do miocárdio (IAM).

“A inclusão desses medicamentos no tratamento é respaldada por evidências. Estudos mostram que a implementação dessa terapia não elevou os custos e também não trouxe riscos adicionais ou efeitos adversos”, salientou.

Outro ponto importante foi a comparação entre angioplastia e cirurgia cardíaca, especialmente em pacientes diabéticos, e a discussão sobre o papel do ecocardiograma na avaliação hemodinâmica.

De acordo com o médico Paulo Eduardo Ballve Behr, a lipoproteína deve ser dosada em todas as pessoas pelo menos uma vez na vida, pois medi-la apenas após o primeiro evento cardiovascular pode ser tarde demais.

Síndrome Coronariana Aguda e Obesidade

Na sequência, o evento trouxe reflexões sobre a síndrome coronariana aguda (SCA), com debates sobre a gestão de antiagregantes em pacientes anticoagulados e a relevância dos betabloqueadores após IAM. O palestrante Euler Manenti, do Rio Grande do Sul, falou da necessidade de uma abordagem criteriosa.

“Intervenções que apresentam benefícios tardios ou modestos devem ser oferecidas apenas em casos selecionados”, afirmou.

O palestrante Marco Wainstein, do Rio Grande do Sul, enfatizou que a doença arterial crônica apresenta uma mortalidade muito baixa e, por isso, é necessário acompanhamento a longo prazo e de uma seleção adequada dos pacientes de maior risco para que haja impacto nos desfechos cardiovasculares.

O palestrante Roberto Estrazulas Mayer abordou as mudanças na nova nomenclatura e apresentou o conceito de MALSD (Doença Gordurosa Hepática Associada à Disfunção Metabólica).

“A definição envolve a presença de excesso de gordura no fígado, associada a pelo menos um fator de risco metabólico, como obesidade, diabetes ou hipertensão. A nova terminologia visa refletir com mais precisão as causas subjacentes e melhorar o entendimento sobre o tratamento e diagnóstico da condição”, relatou.

O cardiologista Justo Leivas abordou a possibilidade de não utilizar betabloqueadores em casos de pacientes com fração de ejeção superior a 50%, que estejam adequadamente tratados e sem outras indicações claras para o uso dessa classe de medicamentos. Também forma discutidos métodos de mensuração da obesidade e a eficácia de terapias medicamentosas.

Novas Abordagens em Dislipidemia

Os especialistas também discutiram novas abordagens e tratamentos para dislipidemias, destacando o novo escore de risco PREVENT da AHA, a dosagem e interpretação do Lp(a), e o papel do ezetimiba e ácido bempedóico na terapia lipídica. O médico Cezar van der Sand explica que a ezetimiba é um medicamento que atua inibindo a proteína Niemann-Pick C1 like 1 (NPC1L1), presente no intestino e no fígado. Esse bloqueio reduz a absorção de colesterol pelo intestino, contribuindo para a diminuição dos níveis de colesterol LDL (o “colesterol ruim”) no sangue.

Desafios e Oportunidades para Cardiologistas

Outra mesa redonda importante focou nos desafios do cardiologista em sua carreira, abordando questões como planejamento financeiro, presença digital e maximização de rendimentos no consultório cardiológico. Os participantes puderam discutir a interação com operadoras de saúde e a importância da formação continuada, especialmente em pós-graduações no exterior.

Marcelo Rava de Campos, do Rio Grande do Sul, abordou a importância da estruturação de preços e serviços na atração de pacientes.

“A forma como os preços são definidos pode influenciar diretamente a demanda pelos serviços oferecidos. Por isso sugerimos a revisão regular das tabelas de preços e ajustes que considerem a demanda, os custos operacionais e a análise da concorrência, buscando garantir competitividade”, disse.

Sessão Interativa sobre Insuficiência Cardíaca

A programação também incluiu uma sessão interativa, onde especialistas debateram sobre insuficiência cardíaca, permitindo que os participantes tirassem dúvidas e discutissem casos clínicos.

Arritmias Cardíacas

Durante a aula sobre terapias para a manutenção do ritmo sinusal, o palestrante Diego Chemello, do Rio Grande do Sul, destacou a importância de uma abordagem holística no tratamento da fibrilação atrial.

“Além do tratamento que inclui ablação e antiarrítmicos, é fundamental lidar com o indivíduo como um todo. Isso significa tratar a hipertensão e o diabetes de forma agressiva, além de incentivar mudanças de estilo de vida, como parar de beber, perder peso e praticar exercícios”, pontuou.

Avanços tecnológicos

O cardiologista Lucas S. Faganello (RS) destacou o papel crucial dos médicos na escolha adequada do dispositivo para cada cenário clínico. Embora o CDI subcutâneo seja uma tecnologia que salva vidas ao prevenir mortes súbitas por arritmias, Faganello ressaltou que sua indicação precisa ser cuidadosa e criteriosa.

“É fundamental determinar em quais pacientes o dispositivo não deve ser utilizado, em quais pode ser uma opção viável e em quais é a melhor escolha cabe ao médico, levando em consideração as particularidades de cada caso e as evidências clínicas disponíveis”, explicou.

Serviço

Congresso SOCERGS 2024

10 a 12 de Outubro

Centro de Eventos Wish Serrano Gramado

Realização: Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul

https://www.socergs.org.br/congresso2024/

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